“Todo arte é um recordar remoto:
coisas obscuras, imemoriais, cujos fragmentos
permanecem escondidos na alma do artista” . Paul Klee
Podemos voltar a olhar o primitivo, o artesanal e o tectônico sem envolver a nostalgia, simplesmente como uma resistência silenciosa a todos os desperdícios, a frivolidade e o ruído.
A 70 km ao norte de Santiago está localizado o vale dos Andes, um dos mais belos e férteis da zona central do Chile. Ali está o Santuário de Teresa de Los Andes junto ao Monastério Carmelita de Auco. Nas margens deste conjunto, e aos pés do Monte Carmelo, foi construída a Capela do Retiro junto à pousada do complexo. Peregrinos chegam neste lugar pelo desejo de transcendência, em busca do silêncio e o recolhimento.
A capela ascende como afirmação da extraordinária geografia que rodeia o conjunto, sem deixar de reconhecer os elos estabelecidos pelo conjunto de edificações preexistentes.
O concreto é o material que permite resolver a estrutura do edifício. O volume, de estrita economia formal, surge do cruzamento de quatro vigas que formam uma cruz que se apoia no mínimo estrutural possível, de tal modo que a relação com o solo seja leve e justa. Forma e estrutura constituem aqui uma síntese indissolúvel.
Sobe a estrita geometria do volume de concreto foi escavado um pátio cujo muro de pedra rústica é implantando aleatoriamente ao redor da capela, comprimindo e expandindo esse espaço de luz.
Como contraponto à magnitude do entorno geográfico, foi proposto um pequeno interior sombreado formado pela caixa de madeira reciclada das antigas linhas ferroviárias. Esta caixa é suspensa pela estrutura de concreto e está há dois metros das vigas que a sustenta, limitando a visão do vazio exterior. O volume, que parece levitar sobre o solo, nos refere a dimensão espiritual que o espaço interno aclama.
Este espaço se ilumina desde sua parte inferior, deixando ver o interior de um corpo sem peso que esconde a racionalidade de seus apoios, como ao exterior permite ver o muro de pedra que conforma o pátio. A luz superior é restringida mantendo assim certa penumbra da caixa, a qual se vê acentuada pela cor escura da madeira. A dualidade exterior racional / interior metafísico, tão própria da arquitetura gótica, assume aqui uma nova expressão comprometida com a modernidade.